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sexta-feira, 9 de abril de 2010

O paradoxo amor...




As vezes tratamos a vida como um laboratório, onde experimentamos e arriscamos tentando vislumbrar determinado resultado, como se tudo fosse exato e calculável, porém como diz Pessoa, "navegar é preciso, viver não é preciso", não há regras, não há bulas, não há receituários. Planejamos e projetamos, mas no decorrer do tempo, vemos muitos de nossos planos escorrerem de nossas mãos como um pedaço de gelo, que volta à sua composição natural exposto ao tempo.

Aprendemos a controlar tudo e a todos, isso nos foi imposto desde a tenra idade, que devemos ter tudo pensado, nossa organização com o tempo, nossa carreira, trabalho, família, amor, filhos, netos, velhice, infelizmente ou felizmente, nada disso pode-se controlar, tanto que muitos definem cedo suas carreiras, entretanto, com o passar do tempo, descobrem que possuem outras paixões, da mesma forma o amor, que não é preciso, não ocorre de forma controlada, mas incontrolável e sem regras. Ora se está bem, outras mal com o bem amado, mas como achar que o amor pode ser administrado?

Tentar controlar um sentimento como o amor, é como amordaçá-lo, sequestrá-lo e fazer com que ele seja dopado e agisse somente do modo que queremos, porém isso ocorre sem sucesso, pois nos deixa doentes e angustiados. Isso faz pensar no amor de uma mãe e um pai tem para com seu filho. Onde vê na pequena criatura, a razão de sua existência, que não vê motivo de poupar-se se for em benefício do pequeno ser que sempre será pequeno, mesmo que cresça. Porém este amor é marcado pela insanidade do controle que pais e mães tentam colocar sobre seus filhos, um paradoxo interessante, como diz mestre Drummond, "o amor tem razões que a própria razão desconhece".

E quando pensamos no amor de Deus? A religião nos colocou um Deus que nos controla, que tem tudo sob controle, porém, quando vejo alguns textos do livro sagrado, as vezes vemos um Deus angustiado, vendo o seu amor pela humanidade não ser correspondido, isso fica claro quando Jesus chora por Israel. Cristo representa a angústia de Deus em busca de amor, que por tanto amar, se anulou em busca desse amor do filho que não corresponde.

Isso parece loucura, de ver um Deus que se angústia com algo que não tem, pelo menos na totalidade. Imaginar um Deus que não tem controle sobre tudo, por isso muitos se perdem, ou simplesmente devemos concordar com o calvinismo e dizer que Deus desejou o mal para sua criação? Desejou que muitos daqueles ao qual dedicou o melhor de si e simplesmente disse que era bom para vivenciar um inferno existencial? Não consigo conceber isso. Prefiro crer que Deus aprende, tanto que se arrepende. Claro, os teólogos de plantão vão dizer que esse arrependimento é marcado pela teoria de um Deus que não volta atrás no que diz e etc. Mas que mal faz voltar atrás, que feio tem um Deus se arrepender?

Alguns podem me condenar à fogueira da Inquisição por afirmar isso, os religiosos ficarão de cabelo em pé e que estou cuspindo em séculos ou milênios de construção de uma imagem de um ser distante da humanidade, distante de nossa realidade. Prefiro pensar em um Deus próximo dos homens, tanto que o livro dos Hebreus afirma sobre um ser que experimentou em tudo a vida dos homens, porém sem pecado.

Afinal, o que é pecado? Nem sei mas dizer o que é pecado, pois a lista infindáveis de males que são cometidos se esvaem quando penso na vida do Cristo, no seu abono, naquilo que nos diz que foram pagos e que vivemos anos de graça. Ora, que adianta viver num estado de graça, quando sou oprimido pelo que penso e falo? Se Deus me agraciou, porque devo viver regulado por um sistema de afirmações, como se o que chamamos de paraíso, fosse um condomínio, cheio de regras, direitos e deveres.

O que penso sobre graça? Ora, um estado de graça, não é o fato de ter marcado um endereço fixo no paraíso celeste, mas de ser inundado por um imenso desejo de amar à vida, de tal forma que esse amor, que esse paradoxo que ele é nos faz querer mais e descobrir mais, de tentar ampliar as potencialidades do que é viver. Tanto, que tudo que fazemos, vemos como enfado e tormento, nisso mora a alegria, que anda de mãos dadas com a tristeza, o fato de ainda vivermos num mundo real e não num mundo ideal.

É como se Deus nascesse e crescesse dentro de nós, como se Ele aprendesse a viver dentro de nós e nos fizesse caminhar com outros olhares, novas formas de amar o mundo, por isso o teólogo Karl Barth disse para não nos surpreendermos se no dia derradeiro, encontrarmos um inferno vazio. Ficamos muito paranóicos com essa idéia dicotômica, pregar um evangelho dentro desse parâmetro, se pregamos um céu, deve haver um inferno. Creio que viver na graça é dia-após-dia o conceito de inferno sumir de nossas mentes e corações, a tal ponto que não seria de se estranhar em achar que todos serão "salvos". Então pra quê continuar pregar? Realmente, é uma pergunta que me faço, melhor seria fazer o bem e levar às pessoas serem contagiadas por esse mesmo amor que temos na e pela vida.

O amor não nos acrisola em dogmas, estruturas, na verdade desestrutura tudo em sua volta e vê caminhos por vias que são totalmente inesperadas e até inóspitas. Tanto que o maior modelo de humanidade veio através da improbabilidade humana, um homem pobre e sem estudo.

Voltando, há como se controlar isso? De forma alguma, mesmo que se tente. Não há como se controlar um Deus incontrolável, um Deus que procura sanar sua angústia, amando cada vez mais. E para piorar, Sua angústia é sanada quando também amamos à Sua medida. Quando aprendemos a valorizar o outro a partir deste paradoxo incompreensível.

É um pensamento meio louco confesso, mas que se atentarmos bem, no fundo amplia nosso amor à Deus, este sagrado tão perto, tão próximo de nós, à ponto de fazer isso. Vê-lo mais imanente que transcendente também é uma forma que nos deixa em paz e seguros.

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